"Era uma vez um menino que encontrou, num bosque próximo à sua
casa, um pardal cuja asa estava quebrada. Recolheu-o, fez-lhe uma gaiola de
varetas e tratou dele com paciência, até que se recuperou. Em pouco tempo,
tomou-se de amores pela avezinha, passando a pensar que ela era
"sua".
Passado um mês, mais ou menos, o pardal curou-se e começou a
tentar fugir da gaiola, batendo as asas e atirando-se contra as varetas. Diante
disso, o pai do garoto aconselhou-o: "Meu filho, você precisa deixá-lo ir
embora. É um pássaro livre, jamais seria feliz numa gaiola. Se o mantiver
preso, ele vai se ferir e poderá ferir a você também".
Levaram a gaiola para fora de casa; o menino retirou o
passarinho de dentro dela com cuidado. Pressentindo a liberdade, o pardal abriu
as asas, tentando voar. Num movimento automático, o menino cerrou a mão,
sentindo um medo súbito de perder para sempre o animalzinho de estimação. A
avezinha grasnou, batendo em vão as asas.
- Filho - disse o pai com brandura - abra a mão. Sei que você
o ama, mas veja como ele se debate! Numa fração de segundo, suas asas tão
frágeis podem partir-se. Apertando-o com força, para evitar que fuja, você pode
machucá-lo e talvez até venha a matá-lo.
- Mas, se abrir a mão, ele voará! - exclamou o menino.
- É possível! - respondeu o pai. - Mas se ele voar talvez um
dia volte, pode vir a mutilá-lo ou a matá-lo, perdendo-o do mesmo jeito e sem
alternativa. A única maneira de reter o que é selvagem é mantendo as mãos
abertas.
O menino abriu a mão e o pardal voou imediatamente, é claro.
Tristonha, a criança viu-o partir, entrando com o pai em casa. Durante todo o
dia foi tomado por uma solidão imensa. Na manhã seguinte, porém, ele foi
despertado pelo som de um chilrear conhecido e viu um pardalzinho pousado num galho
próximo à janela. Não conseguiu saber se aquele era ou não de fato o seu
pardal, mas, ao descer para o seu café da manhã, percebeu que sua solidão havia
desaparecido."
Livro: Histórias Interessantes
Autor: Assis Almeida
Editora: Edições Livro Técnico
Uma história simples e para alguns até com um final
obvio, mas não se deixe enganar, a simplicidade da história traz uma verdade profunda que nos faz pensar em muitas e
determinantes situações que vivemos.
O desprendimento talvez seja o mais duro conflito
que enfrentamos porque criamos certa dependência, viver sem aquilo ou aquele que já nos
faz parte é bastante complicado.
Abrir a mão não é simplesmente deixar voar um pássaro,
mas também um sonho, planos e um sentido de vida que nos conforta, que da razão
as nossas emoções e nos tranquilizava.
As vezes entendo a vida como momentos de sacrifícios e
recompensas, pode parecer estranho mas nos sacrificamos tanto por algo que
desejamos e de repente precisamos enfrentar o mais difícil deles, abrir
mão do que antes tínhamos como sendo nosso.
Quando duas pessoas se amam e existem barreiras que
atrapalham este amor, a decisão mais drástica a se tomar seria abrir mão deste
amor, desistir de tudo que sonhou um dia na esperança que o “próximo” sejam
mais fácil.
Na verdade não é desta abdicação que estou falando, mas
deixar voar tudo aquilo que te impede de viver este amor, tudo aquilo que serve
de obstáculo. Pode ser que estes
impedimentos sejam um estado de espirito ou emocional, talvez algo físico, não importa. Abrir
mão e deixar voar é uma decisão entre viver os seus sonhos ou voltar a dormir
na tentativa de sonhos mais favoráveis.
As recompensas virão depois disto, pode demorar,
podemos não perceber devido ao nosso coração duro e amargurado pela decepção da
perda, mas certamente a recompensa virá.
Lembre-se, temos duas mãos, em uma delas temos todos os nossos problemas, todos os impedimentos que a vida colocou no nosso caminho, na outra mão temos nossos sonhos, planos, pessoas que amamos, ao abrir uma delas tudo se vai e ela permanecerá aberta para receber.
A escolha que devemos fazer é, qual das mãos queremos aberta, dos obstáculos ou dos nossos sonhos?
A escolha que devemos fazer é, qual das mãos queremos aberta, dos obstáculos ou dos nossos sonhos?
O autor tratou de um assunto tão doloroso de uma forma simples, um vocabulário para qualquer criança entender, talvez porque abrir mão seja algo que devemos aprender desde criança para que o adulto que somos hoje possa compreender o significado de respeitar os sentimentos alheios.
"Desconfio que é preciso libertar-se dos medos
bobos para ter coragens absurdas."
Resenha de:
Leonardo: Definitivamente abrir mão não é fácil, ultimamente tenho revisto decisões e me perguntado se valeu a pena.
ResponderExcluirMuito boa sua resenha.