"Na década de 1960, no auge da Guerra
do Vietnã, um orfanato situado em uma aldeia administrada por missionários foi
atingido por um bombardeio. Dezenas de crianças morreram na hora e muitas
outras ficaram feridas. Entre elas estava uma menina de oito anos, em estado
muito grave. Essa criança precisava de sangue com urgência, mas
rapidamente os médicos missionários descobriram que ninguém da equipe era
compatível com aquele tipo sanguíneo.
Então, eles se reuniram com os moradores
da aldeia e com a ajuda de um intérprete, explicaram a situação da
menina. Contudo, a maioria dos moradores não podia doar sangue, devido ao
seu estado de saúde. Depois de testarem o tipo sanguíneo dos poucos candidatos,
a equipe médica chegou à conclusão de que somente um menino tinha condições de
ajudar a criança.
Após realizarem os procedimentos
necessários, deitaram o garoto em uma cama ao lado da menina e inseriram uma
agulha em sua veia. Enquanto o sangue era coletado, ele continuava quietinho,
com os olhos fixos no teto. Depois de alguns minutos, o menino deu um pequeno
soluço e com a mão que estava livre, tapou o rosto tentando esconder as
lágrimas. O médico, então, pediu para o intérprete perguntar ao menino se
ele estava sentindo dor. Ele respondeu:
- Não, moço. Pode continuar.
Porém, não demorou muito para que o soluço
e as lágrimas voltassem. Preocupado, o missionário pediu para ao intérprete
descobrir o que estava fazendo aquele garotinho chorar. O enfermeiro conversou
tranquilamente com ele e, em seguida, explicou ao médico o porquê do choro:
- Ele achou que ia morrer. Ele não
tinha entendido direito o que você disse e estava achando que ia ter que doar
todo o seu sangue para a menina não morrer.
Espantado, o médico missionário se
aproximou da criança e, com ajuda do intérprete, perguntou:
- Se você achava que iria morrer,
por que se ofereceu para doar seu sangue?
Com o coração cheio de amor, o menino
respondeu:
- Porque ela é minha amiga e eu
preferia morrer no lugar dela. "
Sempre que leio algo assim, a pergunta que
me vem a mente é: se trata, de fato, de uma história verdadeira ou não?
Em Portugal a idade mínima para ser um
doador é de dezoito anos; já no Brasil a idade mínima é de dezesseis
anos.
Hoje em dia muitas coisas são publicadas
sem a preocupação de apurar os fatos, por isto não quero entrar neste mérito,
mas apenas usar este fato narrado ou este conto, para questionar se ainda hoje
existem pessoas capazes de gestos assim.
Felizmente acredito que sim, ainda tenho
fé na humanidade, talvez não tantos para um ato extremo como este, mas na bondade
demonstrados em gestos solidários desprovido de interesses.
Nos comovemos quando nos deparamos com
situações como estas, pessoas necessitando de ajuda e sem recursos para
itens básicos de sobrevivência. As vezes ouvimos e vemos em noticiários
verdadeiras tragédias, mas não nos sentimos suficientes para ajudar, mas convém
entender que são nos pequenos gestos que grandes coisas são conquistadas.
Não canso de mencionar como exemplo o
trabalho das formigas, verdadeiras obras da engenharia modernas são construídas
em seus formigueiros apenas com a pequena contribuição de cada uma delas, a disciplina
do seu trabalho transformando uma situação que nos parece impossível.
Recentemente uma família no Brasil trouxe
a público a necessidade que seu filho tinha de um doador de medula, a comoção
foi tão grande que o número de pessoas que se apresentaram para colher material
na Santa Casa de São Paulo, que chegava a trinta por dia, chegou a seiscentos em um único dia (matéria completa no link final da página). Ele
conseguiu um doador cadastrado nos Estados Unidos.
Talvez não consigamos compreender a dimensão
de um simples ato, mas o que precisamos entender é que não nos custa faze-lo.
Posso acordar amanhã e não fazer
absolutamente nada para melhorar o meu dia, não implicará em consequências, no
fim da tarde volto para minha casa e para uma outra noite de sono em
paz.
Posso acordar no dia seguinte e resolver
fazer algo, "perder" uma hora deste dia e realizar um simples gesto
doando sangue, depois voltar para minha casa e no final da tarde outra noite de
sono em paz.
Em sua vida nada mudou, mas tenha a certeza
que este gesto causou um grande impacto para "um" alguém, talvez para
vários.
Revisão de: Heloisa Leando
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Mário Vargas LIosa