Ciúmes no Paraíso |
Para falar sobre o ciúmes é
interessante refletir na frase de Miguel de Cervantes: “Os ciumentos sempre
olham para tudo com óculos de aumento, os quais engrandecem as coisas pequenas,
agigantam os anões e fazem com que as suspeitas pareçam verdades”.
Acredito que depois desta frase
já poderíamos terminar aqui esta reflexão, em poucas linhas ele conseguiu
descrever perfeitamente um sentimento que, assim como qualquer alucinógeno
(droga), destrói aos poucos a pessoa, penetra sem perceber nossos pensamentos e
constrói verdadeiras “alucinações”
diante de uma situação.
O ciúmes é um sentimento tão
perigoso que foi muito bem descrito por Paolo Mantegazza: “O ciumento sempre
espiona, sempre dúvida, sempre sofre; indaga do passado, do presente, do futuro;
nas carícias busca a mentira; no beijo procura a indiferença; no amor teme a hipocrisia.”
Bem triste isto, para quem já
sentiu o ciúmes, mesmo que por pouco tempo, sabe que é verdadeiro, que este
sentimento provoca em nós situações embaraçosas e nos revela talentos que não sabíamos
que possuíamos, a imaginação que constrói verdadeira dramaturgia.
O ciúmes não é apenas um
sentimento imaginário que inventa circunstancias, este sentimento pode ser por
motivos reais, pode ser provocado, algumas vezes sem querer, mas também proposital,
uma coisa é certa, a pessoa ciumenta acaba sempre encontrando mais do que
procura.
Há quem defenda o ciúmes, como é o
caso de Paula Nei: “O ciúme tem seu cabimento: é a pimenta do amor.”
Talvez seja um tempero
necessário, um contraponto para o sentido de liberdade que vigia, mas sempre é
bom lembrar que “pimenta” demais deixa a comida sem condições de degusta-la.
Também há quem use este sentimento para
reavivar a eterna disputa entre homem e mulher, como é o caso de Severo
Catalina del Amo, ao afirmar: "O ciúme manifestado pelo homem quase sempre é
infundado e sempre inflama a mulher; o ciúme mostrado pela mulher quase sempre
é procedente e jamais inflama o homem.”
É uma discussão que não quero me
ater, é certo que entre os pensamentos e capacidade de imaginação entre o homem
e a mulher existem muitas e quilométricas diferenças, mas se existe um ponto em
comum, diria que é a dor que o ciúmes causa para ambos.
Mas como nasce o ciúme?
Para William Shakespeare o ciúme nasce
assim: “Os ciumentos não precisam de motivo para ter ciúme. São ciumentos
porque são. O ciúme é um monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce.”
As vezes não temos motivo algum
para ter ciúmes, mas basta um olhar diferente ao nosso amado (a), um sorriso ou
qualquer manifestação física ou verbal toma uma proporção gigantesca quando
este “monstro” que é o ciúme habita dentro de nós.
Principalmente nos dias de hoje com tantos perfis sociais nas diversas redes de relacionamentos.
Mundo Digital |
Para finalizar quero parafrasear
mais uma vez citando Sthendal: “Para que um bom relacionamento continue e seja
agradável, é preciso não apenas suspeitar prudentemente como ocultar
discretamente a suspeita.”
Parece uma frase de conformismo,
mas na verdade quer dizer apenas que certamente alguns sentimentos haverão, mas o sentimento chamado de amor
deve ser maior e a confiança deve superar as suspeita até que, de fato, se
prove o contrário. Assim como suspeitamos discretamente, devemos ocultar
estas suspeitas da mesma forma enquanto não se confirmam, neste intervalo viver
a vida e aproveitar todos os momentos sem deixar que a simples desconfiança
vire um tormento eterno.
Frases citadas: Miguel de
Cervantes, Paolo Mantegazza, Paula Nei, Severo Catalina del Amo, William Shakespeare
e Sthendal.